CRIMINOSA AMNÉSIA E MEGALOMANIA CRÓNICA

O cidadão João Manuel Gonçalves Lourenço nasceu no dia 5 de Março de 1954, na cidade do Lobito, província de Benguela, filho de Sequeira João Lourenço, enfermeiro, e de Josefa Gonçalves Cipriano Lourenço, costureira. Em 1974 tinha, portanto, 20 anos. E como era a Angola no ano em que esta cidadão festejou 20 anos de vida?

Por Orlando Castro

Em 1974, como muito bem sabe João Manuel Gonçalves Lourenço, Angola era: O segundo maior produtor mundial de açúcar; o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; o primeiro exportador africano de carne bovina; o segundo exportador africano de sisal; o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe.

Em 1974, como muito bem sabe João Manuel Gonçalves Lourenço, Angola tinha: por via do Grémio do Milho a melhor rede de silos de África; o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela.

Também tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; pelo menos três fábricas de salchicharia; pelo menos quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito.

Também tinha a fábrica de pneus da Mabor; três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco; tinha uma linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, tinha a indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e a EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum.”

João Manuel Gonçalves Lourenço aprendeu a ler e a escrever nessa época. Fez os estudos primários e secundários na província do Bié e também na cidade capital, na antiga Escola Industrial de Luanda e no Instituto Industrial de Luanda.

De 1978 a 1982, recebeu na então União Soviética formação militar, tendo-se especializado em artilharia pesada. Nesse país, obteve igualmente o grau académico de Mestre em Ciências Históricas. Tem o domínio fluente do inglês, do russo e do espanhol e consegue falar mais ou menos bem português, mau grado dizer coisas do tipo “se haver necessidade” e não “se houver necessidade”.

João Manuel Gonçalves Lourenço participou a partir de Agosto de 1974 na luta de Libertação Nacional, conduzida pelo MPLA, tendo feito a sua primeira instrução político-militar no Centro de Instrução Revolucionária – CIR ‘Kalunga’ – no Congo Brazzaville. Integrou o primeiro grupo de combatentes do MPLA que em 1974 entrou em território nacional, via Miconge, em direcção à cidade de Cabinda.

Nas vésperas da Independência, terá participado em combates em Ntó-Iema, na província de Cabinda, e em outras localidades, contra a invasão do exército zairense que pretendia ocupar o território de Cabinda. Exerceu também as funções de Comissário Político das então Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) em diversos escalões, incluindo a de Comissário Político da 2ª Região Político-Militar de Cabinda.

Durante a década de 80 do século XX, participou em várias operações militares no centro do país, nomeadamente nas províncias do Cuanza Sul, Huambo e Bié. Em 1983 exerceu a Presidência do Conselho Militar Regional da 3ª Região Político-Militar. Nas Forças Armadas, desempenhou ainda as funções de Chefe da Direcção Política das FAPLA, de 1989 a 1990. Actualmente é General-de-Três-Estrelas, na reserva, das Forças Armadas Angolanas (FAA).

João Manuel Gonçalves Lourenço integrou o Comité Central do MPLA desde 1985, é membro do seu Bureau Político desde 1990 e, na sequência do VII Congresso Ordinário do MPLA, realizado em 2016, foi eleito Vice-Presidente do MPLA. Anteriormente, já tinha desempenhado as funções de 1º Secretário do Bureau Político e também Secretário do Bureau Político do MPLA para a Informação e para a Esfera Económica e Social.

No domínio das funções supostamente governativas, foi nomeado em 1983, aos 29 anos de idade, para exercer o cargo de Comissário Provincial do Moxico, equivalente ao cargo actual de Governador de Província. Foi posteriormente, de 1986 a 1989, Comissário Provincial de Benguela. Em 2014, por Decreto Presidencial de José Eduardo dos Santos (a quem deve o cargo que actualmente exerce e que por si foi apunhalado pelas costas), foi nomeado Ministro da Defesa Nacional, cargo que exerceu até ao início da campanha eleitoral de 2017.

Ao nível parlamentar, foi Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA, de 1991 a 1998, e posteriormente Presidente da Comissão Constitucional da Assembleia Nacional, tendo desempenhado as funções de 1º Vice-Presidente da Assembleia Nacional, de 2003 a 2014.

Por sofrer de uma estratégica amnésia quanto aos primeiros 20 anos da sua vida e do país, João Manuel Gonçalves Lourenço teima em mostrar o seu nanismo intelectual quando diz, e diz muitas vezes, que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500. Os actuais mais de 20 milhões de pobres que existem no reino do MPLA são, aliás, prova disso.

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